quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Game on

Gostava de começar com uma publicação positiva, calhou-me uma lacrimejante série de televisão. É que a vida lá fora está ruidosa, irracional, estúpida, suicidária, inflamatória. E sobretudo pouca vida a sério, só projecções numa caverna como as analogias dos antigos.
Parece que não mas cansa, todos os dias tentar seguir os nossos princípios, não entrar em rota de colisão com ninguém e simplesmente deixar passar o momento.
Deixar. Passar. O momento. Como se fosse um mosquito um segundo mais lento.
Estamos nos dias da indecisão e das decisões fatais. Tudo o que fazemos é analisado, mas sem verdadeiramente ser avaliado etica ou logisticamente. Andamos cá porque andamos cá. Com a culpa de matarmos o planeta, matarmo-nos a nós, e sermos pessoas de bem que não fizeram nada quando chegou o mal.

Foi o facebook que me roubou o tempo do blogue (livrodepoemas). Distraiu-me com os vídeos de gatinhos (e ainda distrai, mas não é suficiente). O pior vício das redes sociais é tudo estar à distância de um clique. O automatismo e o imediato. Para além da escrita começou também a roubar-me a leitura e a paciência. E assim estou a tentar mudar, andando para trás, mas conciliando os mundos se possível.

Eppur si muove disse um dia Galileu (um dos meus heróis). Uma coisa é a fé, outra a constatação das leis da física. Hoje estamos a caminhar no sentido contrário. Galileu era crente, mas não podia contestar a evidência científica à prova de dogmas.

E no entanto ela move-se. She moves in mysterious ways. She is alive.

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

This ain't us but still feels fine

Há uma palavra em inglês que resume quase tudo, cheesy. This is us é borderline cheesy, porque nos atira aos olhos todos os estereótipos da soap, mas arremata com punchlines certeiras, mesmo quando o argumento anda à deriva.
E é fácil andar à deriva com um núcleo de personagens a alargar e três irmãos improváveis que aos 38 anos (and counting) parecem tão perdidos na linha da vida.
A Mãe e o Pai são a linha condutora, os larger than life com um defeitozinho, a história de amor que ao mesmo tempo contraria e afirma o "viveram felizes para sempre".
Há demasiados observadores com uma luneta crítica (por exemplo o site NewInTown trata tão intensivamente os Pearson como um episódio do Pesadelo na Cozinha).
Aquilo que eles querem saber ( p ex a morte do Jack), parece-me uma atitude redutora para a série: há várias personagens falecidas que continuam a evoluir no seu timeline.
Ou seja, só morremos, quando todos se esqueceram de nós. É um lugar comum, tal como o do último episódio. O homem bom com que vamos casar lava a loiça. Por mais cheesy que pareça, não deixa de ser verdade.