A
palavra pessoa deriva do latim persona, que quer dizer máscara. Contudo,
não uma máscara qualquer; prosopon, a raiz grega, refería-se à máscara
ou face utilizada pelos actores no palco para
revelar ao público a personagem e seu estado emocional.
Não
deixa de ser irónica esta dualidade que chegou à era moderna, sobre o sentido
do eu como indivíduo e, ao mesmo tempo, como a sua própria máscara, para os
outros.
A
personalidade será então a nossa máscara muito própria, um conjunto de
características psicológicas (pessoais e intransmissíveis), que através de
padrões cognitivos, emocionais e de comportamento, determinam a individualidade
pessoal e social de alguém.
Traduz
portanto um grande conjunto de processos organizados do nosso pensamento, com
características consistentes e estáveis ao longo do tempo e, apesar de assentar
em conceitos psicológicos, encontra-se intimamente ligada com o nosso restante
organismo (como unidade biológica).
Se
pensarmos em neurónios, sinapses,
neurotransmissores (moléculas que modelam a transmissão de sinais nervosos) e
em toda a estrutura biológica implicada nas bases do funcionamento cerebral,
parecer-nos-ia fácil aceitar uma programação genética como base para vários
processos mentais.
A
verdade é que, do ponto de vista científico, até hoje, apenas se conseguiu
provar uma relação genética directa com algumas doenças degenerativas e com
graves perturbações do funcionamento cerebral.
E
apesar de se terem empiricamente definido alguns “traços” de personalidade
(“temperamentos”) que podem estar associados a diferentes expressões de
neurotransmissores (extraversão, amabilidade, responsabilidade, estabilidade
emocional e abertura a novas experiências), certo é que não há ligação genética
que preveja esses traços.
Por
outro lado, surge a teoria epigenética -
não há “nature” sem “nurture”, ou seja é o próprio
ambiente que vai ser determinante para a expressão genética (leia-se o ambiente
celular, o ambiente no organismo, e em última medida, o ambiente externo que os
condiciona).
Sabe-se também que, apenas para determinar a
quantidade de um neurotransmissor, é necessária a expressão conjunta de vários
genes, sendo a relação causa-efeito muito mais difícil de prever.
Concluímos
então que o ambiente é fundamental para estruturar a nossa personalidade.
Pensemos
no ser humano, um animal social e com grande avidez de conhecimento. Na
infância, a sua casa (o seu lar), a sua família (mãe, pai, irmãos), os afectos,
vão ser determinantes. As tradições e histórias que a família passa de geração
em geração. Os valores culturais e morais que prezam. Os seus credos e leis.
As
crianças tendem a mimetizar o comportamento dos adultos à sua volta. A criar o
mesmo tipo de relações sociais. Nestes últimos anos, a fase pré escolar e
escolar já é sobreposta a uma outra fase, a da relação com elementos não
humanos que produzem entretenimento ou informação (tablets, computadores, etc).
De que modo influenciará as gerações futuras?
O
ambiente da escola, a socialização, os amigos e os tempos livres. O lugar onde
vivemos e as coisas com que aprendemos a sonhar. A nossa personalidade abarca
tudo isso.
Na
idade adulta, o trabalho, a sociedade (e como apêndice, as redes sociais) influenciam
o nosso conceito de normalidade ou de padrão desviante, o sentimento de
pertença a grupos ou clubes, a liberdade ou a pressão de pensar (ou não )no
futuro. E escolher que “máscara” representar para os outros.
A
minha máscara, o exército de mim, é um exército de todos.
Army of me (1995)/Bjork (Sucker Punch, 2011)
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